sábado, 5 de janeiro de 2008

O limite do conhecimento: Sofistas, Céticos e Nietzsche – “o lado negro da força”.

(texto escrito em 2006 avaliação de teoria do conhecimento 1)

A intenção desse ensaio é falar sobre a parte menos “aceita” na filosofia acadêmica, quando o tema a ser tratado é o conhecimento. Será feito aqui uma passagem por vários filósofos e correntes filosóficas que negam a possibilidade de um conhecimento objetivo, apresentando o “lado negro da força e sua missão”. Os sofistas talvez sejam os primeiros a defender com entusiasmo a tese do conhecimento limitado. A parte dessa teoria que nos interessa é sobre a linguagem e os seus limites para tal feito. Acataremos aqui a visão de Górgias sobre o tema.

A concepção dos filósofos como Platão entre outros, era de que as palavras nomeavam as coisas tal como são, e que a razão poderia descrever os processos que aconteciam no mundo. Já Górgias, defendia que não era possível tal proeza, pois as coisas não podiam ser conhecidas por completo, em conseqüência disso, a linguagem era sempre a nomeação do que podíamos perceber do real, logo, sempre subjetiva porque depende do que percebemos. Outro grande empecilho seria a transmissão de conhecimento para outra pessoa, pois se o mesmo para ser adquirido dependia da relação dos nossos sentidos com os objetos, como poderíamos transferir tais sensações a outra pessoa, se a mesma terá sempre diferentes sensações sobre a mesma coisa. Por isso, a linguagem como representante da realidade é sempre limitada, sua intenção de descrever o mundo tal como é, é sempre falha e a tentativa de servir de meio para transmissão de conhecimento é sempre incompleta.

Passando pra próxima fase, falaremos sobre os céticos e seus argumentos em defesa do nosso objetivo que é o de mostrar o limite do nosso conhecimento. O ceticismo tem como princípio a ausência de dogmas e de fundamentações últimas. Para os céticos, mesmo que algo seja provado na prática não quer dizer que o mesmo seja verdadeiro, com a verificação há apenas uma perspectiva favorável de que algo venha a acontecer, é uma questão de probabilidade e não de verdade. “As representações são prováveis sem que isto signifique afirmar a sua veracidade. O logos para o cético, nada mais é que a expressão da nossa experiência e, neste sentido, a linguagem é somente um instrumento de inserção no mundo fenomênico, que apenas descreve aquilo que aparece” (BEZERRA, 2004:36).

As perguntas realizadas pela filosofia sobre a natureza das coisas, o sentido das mesmas, tem para os céticos sempre uma resposta negativa, pois para eles, as coisas são incertas, indiferentes. Por isso a atitude cética perante a tentativa de se obter conhecimento objetivo, é sempre a de preservação da indagação em lugar da certeza. O cético é aquele que não acredita estar descrevendo o mundo ao tentar conhece-lo e sim narrando suas próprias perspectivas perante o mundo. Eles consideram impossível estabelecer um critério de verdade. Pois, “como afirmar que o entendimento conhece, se o mesmo não poderá julgar aquilo que conhece, nem tampouco, saber se as impressões advindas dos sentidos correspondem as objetos reais?” (BEZERRA, 2004:39).

Depois de céticos e sofistas, encerraremos com a concepção mais radical sobre o alcance do nosso conhecimento, que é a de Nietzsche. Para isso explicaremos o conceito de ontologia negativa. Desde Parmênedis a filosofia trabalha com a idéia da existência de um Ser uno e fixo, o que traz a possibilidade de conhecer objetivamente, pois o ser é algo que permanece sempre igual a si mesmo. Rompendo com essa concepção clássica que tinha sido “cristalizada” por Platão, Nietzsche dirá que não a um ser fixo, nem mesmo um ser, não há o que alguns chamaram de “coisa em si”. A realidade para ele é dinâmica, está em mudança constante num devir eterno. Os objetos ou fatos que pretendemos conhecer estão sempre se modificando, impossibilitando qualquer tipo de objetividade. A questão do sujeito também terá aqui sua concepção mais aterrorizadora, como tudo está em constante mudança, o sujeito do conhecimento nunca permanece o mesmo, Nietzsche diz que “a existência do ‘eu’ é uma ficção vazia”. Assim não há nem objeto, nem sujeito fixo, o que impossibilita a objetividade. Diferentemente dos céticos que negam que podemos chegar a um conhecimento seguro, essa pode ser considerada a posição mais drástica por ser a única a dizer que não há verdades, por não haver um mundo do Ser todo conhecimento se revela condicionado, perspectivo e antropomórfico.

“A radicalidade do perspectivismo não reside em afirmar que o conhecimento varia segundo o ponto de vista, mas em negar a existência de um ponto de vista transcendente que poderia reunir os demais em uma síntese ou totalização, e que seria a única condição pela qual poderíamos conceber uma ‘coisa em si’ para além das perspectivas. Assim o conhecimento é relativo não apenas por que coexiste em outras formas (ao menos possíveis) de apreensão do mundo, mas porque, na ausência de um ponto de vista absoluto, toda apreensão do mundo resulta de uma relação estabelecida por aquele que conhece” (ROCHA, 2003:32).

Todo conhecimento passa a ser uma falsificação do real, e não se pode atribuir qualquer tipo de sentido e/ou lógica ao mesmo, pois o mundo desconhece tais atribuições, e o homem quando tenta classificá-lo de tal forma, realiza a antropomorfização do mundo. Independente dos limites da linguagem ou da razão o estatuto de incognoscível está escrito no próprio mundo. Sendo que qualquer tentativa de conhecê-lo, automaticamente, já estará fadada ao fracasso.

BIBLIOGRAFIA

BEZERRA, Cícero Cunha. Cadernos UFS – Filosofia; O Desafio Cético. São Cristóvão, Editora UFS, 2004.

LUZ, Alexandre Meyer. Conhecimento e Justificação: Problemas da Epistemologia Contemporânea. Não publicado.

KERFERD, G. B.. O movimento sofista, São Paulo, Edições Loyola, 2003.

NIETZSCHE, Friedrich. Os pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1996.

ROCHA, Silvia P. Velloso. Os Abismos da suspeita: Nietzsche e o perspectivismo, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2003.

Um comentário:

Poeta impar disse...

tu já tinha me falado desse texto, enfim tu pós ele aqui, ficou muito bom mesmo.

vou pensar em por uns meus em um blog.
pena q são muito geográficos. mas podem ajudar alguem.