sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Educação para além da estatística!

Será que ninguém quer perceber, ou que realmente se acredita nisso? A pergunta não teria sentido sem o objeto ao qual questiono, aqui está ele: O REUNI! Quando se fala no dito cujo por todos os lados surgem números, estatísticas, previsões financeiras, entre outras fontes numéricas.

Em nenhum momento parece ser questionado o que se quer com isso, o que se esconde atrás do aumento de vagas, das aprovações por médias sem presença (um ensino à distância disfarçado), do número de alunos na sala de aula. O que sei é que temos um "economista" dando "ordens" por aqui, por isso não me espanta a forma como ele se deleita ao falar na sua "numerologia reunística". A pergunta que me sinto forçado a fazer é essa: Será que ele tem uma concepção sobre educação? Há algo mais na cabeça deste "homem" (as aspas são necessárias!)? Será que a calculadora é sua forma de racionalidade?

Seria inocência demais da nossa parte, achar que se trata de um "mal-informado". O que vemos por aqui é uma concepção de educação direcionada ao mecanicismo, a uma produtividade quantitativa e cada vez mais distante daquele antigo sonho - que quase todos diziam acreditar - de que a educação antes de tudo forma indivíduos para viver em sociedade.

Espere aí! Vamos com calma, esse sonho é mais real do que nunca.

A educação ainda forma indivíduos pra viver em sociedade. É só parar, olhar ao redor e ver que tudo está impregnado de estatísticas e números. Mercados, bolsas de valores, fábricas, lojas etc. Temos na educação o espelho da proposta de sociedade que eles querem. É preciso acabar com a ilusão de que a educação salvará o mundo! Não nego que ela seja um dos instrumentos para essa mudança, mas ao mesmo tempo pode ser também a principal arma de adequação ao que o sistema impõe.

Se a educação forma indivíduos para viver em sociedade, talvez tenhamos que mudar a pergunta a ser feita: Que tipo de indivíduos nós queremos e pra que tipo de sociedade?

Inacabado!

A miséria e os ritos religiosos!

Pode parecer a um olhar pouco observador, que com o passar dos tempos nos afastamos dos antigos rituais religiosos. Com um pouco de atenção e maldade acrescentados a esse mesmo olhar, podemos vislumbrar uma perspectiva diferenciada. Arrancando o véu da bondade religiosa com que vemos as coisas no mundo e parando de assistir tantos programas de tv, talvez perceberemos o que há por trás das nuvens.

Hoje pela manhã, lembrei que há miséria no mundo, por maior que seja o esforço pra que não se perceba isso, às vezes a gente até consegue. E que também há vários tipos de miséria e que pareceria necessário limitar um pouco o conceito pra poder facilitar (pra mim e não para quem sofre) a minha proposta. Trataremos aqui da miséria que leva a morte, seja por fome, doenças não tratadas, o que normalmente chamamos de condições subumanas.

Para ilustrar a situação, pensemos na África, na parte mais pobre da mesma. Naquela em que fotógrafos ganham prêmios como o Pulitzer (que acompanha além de reconhecimento uma grande quantia financeira).

Também hoje pela manhã, nesse surto de consciência matinal, lembrei que a riqueza no mundo (e como há). Infelizmente não distribuem pra todo mundo, mas fica o apelo religioso e emocional do mesmo: Pelo amor a Deus, distribuam! Repetindo o método ilustrativo, pensem nas mansões, nos hotéis "seis estrelas", nos carrões importados que custam milhões etc.

Aí pra deixar vocês de boca aberta, acreditem se quiser, passei algum tempo pensando nos rituais religiosos antigos, de todas as espécies. Aqueles que eram realizados para se pagar uma dívida, seja por erros cometidos, por favores realizados ou por ter falhado com as entidades divinas e suas recomendações específicas. Lembrei que no começo sacrificavam os parentes, depois se amenizou um pouco e começaram a matar animais, servos e escravos, no lugar dos familiares. Assim a consciência estava lavada e a família permanecia sem desfalques.

Juntei tudo nessa cabeça que no meu corpo se encontra, e cheguei a um raciocínio quase que "lógico". Acompanhem: Aqueles que usufruem com muita vantagem sobre os demais (os ricos e opressores) das riquezas do mundo e que às vezes (pouquíssimas) por causa da religiosidade que toma conta de seus corações, sentem um peso na consciência, usam os miseráveis como sacrifício, da mesma forma que antigamente se utilizavam os servos, escravos e animais, que serviam de pagamento as divindades por todos seus erros cometidos.

Não seria a África miserável o sacrifício dos milionários e suas multinacionais? Será que pra cada humano privilegiado que come por seis, o africano que morre de fome, serviria de sabão para a consciência?

sábado, 5 de janeiro de 2008

1 – Racionalidade e Modernidade – Uma visão Nitzscheana

(Primeira avaliação da UFS - 2005, sociologia 1 tema: racionalidade)

Nietzsche (1844-1900) acreditava numa filosofia que fosse expressão das vivências genuínas e pessoais, vendo na experiência estética uma espécie de êxtase e redenção, é, por isso mesmo, considerado um precursor da crítica a um tipo de racionalidade meramente técnica, fria e planificadora.

A valorização da razão e da lógica surge desde a Grécia arcaica, com a escola socrática. Sócrates e seus contemporâneos, segundo Nietzsche, não estariam mais à altura da experiência trágica do mundo, não conseguindo suportar o racionalmente incompreensível – o absurdo da existência.

Com isso, Sócrates, lança suas criticas aos poetas trágicos e suas obras, por não conterem conteúdo que possa ser capturado pelo pensamento racional. Para o pensador alemão, as artes trágicas não deveriam se submeter a esse método racional ao qual Sócrates as propõem. Um bom exemplo é o mito de Sileno, em que ele diz: “melhor é não ter nascido, já que nascemos é melhor deixarmos de existir o mais rápido possível”. O resultado dessa afirmação nos gregos é o oposto do que é dito. Com essa trágica concepção de vida, o mito de Sileno desperta nos gregos o a vontade de viver, e que melhor é ter nascido.

O pensador alemão faz uma análise histórica do processo de racionalização da modernidade, e para ele, não resta dúvida de que, herdeira dos progressos do iluminismo, a modernidade julga-se libertada da ignorância e da superstição. Confiante nas possibilidades produzidas pela indústria da ciência e da técnica, o homem moderno acredita está certo de poder descobrir todos os segredos do universo e construir uma nova sociedade, menos opressiva e violenta. Percebe ainda, que a modernidade deposita toda sua esperança na onipotência do conhecimento científico, no valor absoluto da verdade a qualquer preço - sendo essa verdade, alcançada pela razão. Com isso cria-se um novo Deus onipotente – o Deus Logos (a razão).

Contra esses deuses criados pela humanidade, Nietzsche expõe uma de suas frases mais famosas, “Deus está morto”. “O homem se descobre assassino de Deus, e quer assumir e carregar este novo peso. Quer a consciência lógica dessa morte: torna-se ele o próprio Deus” (Deleuze).

Nietzsche defende que o essencial em nossa existência permanece envolto num mistério impenetrável a qualquer explicação racional.

Em seu livro Gaia Ciência (1882), Nietzsche expõe uma nova forma de racionalidade, a ciência alegre (“gaia”). Essa nova visão da ciência permite a mesma, um “luxo intelectual de percorrer, com graça e leveza, os caminhos mais pedregosos, levar sobre os ombros os mais penosos fardos de nossa tradição, sem negatividade ou rancor, esforçando-se por multiplicar as perspectivas, para poder compor uma imagem mais plena das coisas, embora nunca total”(Oswaldo Giacoia).

O limite do conhecimento: Sofistas, Céticos e Nietzsche – “o lado negro da força”.

(texto escrito em 2006 avaliação de teoria do conhecimento 1)

A intenção desse ensaio é falar sobre a parte menos “aceita” na filosofia acadêmica, quando o tema a ser tratado é o conhecimento. Será feito aqui uma passagem por vários filósofos e correntes filosóficas que negam a possibilidade de um conhecimento objetivo, apresentando o “lado negro da força e sua missão”. Os sofistas talvez sejam os primeiros a defender com entusiasmo a tese do conhecimento limitado. A parte dessa teoria que nos interessa é sobre a linguagem e os seus limites para tal feito. Acataremos aqui a visão de Górgias sobre o tema.

A concepção dos filósofos como Platão entre outros, era de que as palavras nomeavam as coisas tal como são, e que a razão poderia descrever os processos que aconteciam no mundo. Já Górgias, defendia que não era possível tal proeza, pois as coisas não podiam ser conhecidas por completo, em conseqüência disso, a linguagem era sempre a nomeação do que podíamos perceber do real, logo, sempre subjetiva porque depende do que percebemos. Outro grande empecilho seria a transmissão de conhecimento para outra pessoa, pois se o mesmo para ser adquirido dependia da relação dos nossos sentidos com os objetos, como poderíamos transferir tais sensações a outra pessoa, se a mesma terá sempre diferentes sensações sobre a mesma coisa. Por isso, a linguagem como representante da realidade é sempre limitada, sua intenção de descrever o mundo tal como é, é sempre falha e a tentativa de servir de meio para transmissão de conhecimento é sempre incompleta.

Passando pra próxima fase, falaremos sobre os céticos e seus argumentos em defesa do nosso objetivo que é o de mostrar o limite do nosso conhecimento. O ceticismo tem como princípio a ausência de dogmas e de fundamentações últimas. Para os céticos, mesmo que algo seja provado na prática não quer dizer que o mesmo seja verdadeiro, com a verificação há apenas uma perspectiva favorável de que algo venha a acontecer, é uma questão de probabilidade e não de verdade. “As representações são prováveis sem que isto signifique afirmar a sua veracidade. O logos para o cético, nada mais é que a expressão da nossa experiência e, neste sentido, a linguagem é somente um instrumento de inserção no mundo fenomênico, que apenas descreve aquilo que aparece” (BEZERRA, 2004:36).

As perguntas realizadas pela filosofia sobre a natureza das coisas, o sentido das mesmas, tem para os céticos sempre uma resposta negativa, pois para eles, as coisas são incertas, indiferentes. Por isso a atitude cética perante a tentativa de se obter conhecimento objetivo, é sempre a de preservação da indagação em lugar da certeza. O cético é aquele que não acredita estar descrevendo o mundo ao tentar conhece-lo e sim narrando suas próprias perspectivas perante o mundo. Eles consideram impossível estabelecer um critério de verdade. Pois, “como afirmar que o entendimento conhece, se o mesmo não poderá julgar aquilo que conhece, nem tampouco, saber se as impressões advindas dos sentidos correspondem as objetos reais?” (BEZERRA, 2004:39).

Depois de céticos e sofistas, encerraremos com a concepção mais radical sobre o alcance do nosso conhecimento, que é a de Nietzsche. Para isso explicaremos o conceito de ontologia negativa. Desde Parmênedis a filosofia trabalha com a idéia da existência de um Ser uno e fixo, o que traz a possibilidade de conhecer objetivamente, pois o ser é algo que permanece sempre igual a si mesmo. Rompendo com essa concepção clássica que tinha sido “cristalizada” por Platão, Nietzsche dirá que não a um ser fixo, nem mesmo um ser, não há o que alguns chamaram de “coisa em si”. A realidade para ele é dinâmica, está em mudança constante num devir eterno. Os objetos ou fatos que pretendemos conhecer estão sempre se modificando, impossibilitando qualquer tipo de objetividade. A questão do sujeito também terá aqui sua concepção mais aterrorizadora, como tudo está em constante mudança, o sujeito do conhecimento nunca permanece o mesmo, Nietzsche diz que “a existência do ‘eu’ é uma ficção vazia”. Assim não há nem objeto, nem sujeito fixo, o que impossibilita a objetividade. Diferentemente dos céticos que negam que podemos chegar a um conhecimento seguro, essa pode ser considerada a posição mais drástica por ser a única a dizer que não há verdades, por não haver um mundo do Ser todo conhecimento se revela condicionado, perspectivo e antropomórfico.

“A radicalidade do perspectivismo não reside em afirmar que o conhecimento varia segundo o ponto de vista, mas em negar a existência de um ponto de vista transcendente que poderia reunir os demais em uma síntese ou totalização, e que seria a única condição pela qual poderíamos conceber uma ‘coisa em si’ para além das perspectivas. Assim o conhecimento é relativo não apenas por que coexiste em outras formas (ao menos possíveis) de apreensão do mundo, mas porque, na ausência de um ponto de vista absoluto, toda apreensão do mundo resulta de uma relação estabelecida por aquele que conhece” (ROCHA, 2003:32).

Todo conhecimento passa a ser uma falsificação do real, e não se pode atribuir qualquer tipo de sentido e/ou lógica ao mesmo, pois o mundo desconhece tais atribuições, e o homem quando tenta classificá-lo de tal forma, realiza a antropomorfização do mundo. Independente dos limites da linguagem ou da razão o estatuto de incognoscível está escrito no próprio mundo. Sendo que qualquer tentativa de conhecê-lo, automaticamente, já estará fadada ao fracasso.

BIBLIOGRAFIA

BEZERRA, Cícero Cunha. Cadernos UFS – Filosofia; O Desafio Cético. São Cristóvão, Editora UFS, 2004.

LUZ, Alexandre Meyer. Conhecimento e Justificação: Problemas da Epistemologia Contemporânea. Não publicado.

KERFERD, G. B.. O movimento sofista, São Paulo, Edições Loyola, 2003.

NIETZSCHE, Friedrich. Os pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1996.

ROCHA, Silvia P. Velloso. Os Abismos da suspeita: Nietzsche e o perspectivismo, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2003.

A culpa

Por que será que sempre tentamos achar algum culpado quando algo dá errado? Indo mais além, por que culpar alguém ou algo? São perguntas aparentemente complexas, mas que tem uma explicação, até certo ponto simples.

Para tornar a discussão mais viável, optamos por delimitar o sentido da palavra culpa como consciência mais ou menos penosa de ter descumprido uma norma social e/ou um compromisso (afetivo, moral, institucional) assumido livremente (Houaiss). O “livremente” aqui abre a possibilidade de encararmos a culpa de maneira bastante subjetiva.

Temos que ressaltar aqui que a culpa é fruto da moral cristã e que na antiguidade grega, a mais ou menos quinhentos anos antes de Cristo, esse sentimento não existia, e a própria palavra era desconhecida. A palavra erro seria bem mais adequada para a cultura grega. Palavra essa que está ligada a uma ação de caráter excessivo, que gera uma situação difícil, seria a desmedida, a hybris. O erro é um peso para toda a comunidade e não para um único indivíduo, é o débito comunitário. Nessa época, a noção de interioridade e indivíduo encontra-se ainda em formação, dando os seus primeiros passos. O que descarta toda a possibilidade de culpa individual e de penitência. O mais interessante dessa cultura nesse aspecto, é que justamente a hybris, a desmedida - que para nós, filhos do cristianismo é algo reprovável - encontra-se presente em todos os heróis trágicos, sendo essa característica que os diferencia dos "não-heróis".

Após essa pequena explicação histórica, que foi apresentada com a intenção de esclarecer a origem e a diferença entre os gregos e os cristãos, mostrando que a culpa não é um conceito conhecido em todas as sociedades, e que a mesma não é inata ao ser humano, transportaremos a discussão para a atualidade, buscando uma análise atual sobre a função da culpa em nossa sociedade e o elogio a desmedida como arma para combater esse problema.



(texto inacabado feito no final de 2005)